Restos de Colecção

24 de setembro de 2025

"Grande Hotel Liz", em Leiria

O "Grande Hotel do Liz", localizado no Largo Alexandre Herculano na cidade de Leiria, terá sido inaugurado por volta de 1880. Seu primeiro proprietário foi Jose Gonçalves dos Santos que em 1882 aparecia referido como tal no "Anuario del comercio, de la industria, de la magistratura y de la administración" (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de España). 

"Grande Hotel do Liz", na sua versão original, ao lado da Igreja do Espírito Santo construída no reinado de D. Diniz (1306)


1882


Ambas de 1 de Novembro de 1882



"Grande Hotel do Liz"

Depois da morte do seu fundador, que terá ocorrido entre 1911 e 1913, ficou a sua viúva D. Adelina Ferreira Gonçalves dos Santos como proprietária, aparecendo nos anúncios a esta unidade hoteleira como "Viuva Gonçalves". Entretanto aquando da ampliação do hotel, por volta de 1905, este mudou de designação para apenas "Grande Hotel Liz", em vez de "Grande Hotel do Liz", apesar de em alguma publicidade ainda manter a designação antiga.


Ambos de 1913



20 de Dezembro de 1915

Na década de 20 do século XX, já este hotel tinha passado para a posse da firma "Cruz, Fernandes , Limitada", que mantinha uma empresa de transporte de passageiros e mercadorias, assim como garagem com posto de combustível - «Gasolina e óleos SHELL», na Rua Tenente Valadim nesta cidade e assim se conservaria por algumas décadas seguintes.





No "Guia dos Caminhos de Ferro Portugueses" de 1926


Largo 5 de Outubro em Leiria, com o "Hotel Central" de Francisco Pereira ao fundo à esquerda


No guia "The Blue Guides" em 1929


Factura de Junho de 1929


Etiqueta de bagagem

No guia "Hoteis e Pensões de Portugal" de 1939, o "Grande Hotel Liz" era publicitado com o seguinte texto:

«Instalado no ponto mais central e aprazível da cidade. Serviços combinados de camionetas com os caminhos de ferro. Servido pela União Automóvel Leiriense, Lda., dispõe de automóveis e camionetas para passeios e excursões. Êste hotel tem intérprete e está aberto todo o ano.»

Categoria:  3ª  classe
Nº de quartos:  35
Diária:  entre 33$00 e 43$00
Pequeno-almoço:  3$00
Almoço:  13$00
Jantar:   14$00 

Proprietários: Cruz, Fernandes, Lda.»


24 de Dezembro de 1940

Na revista "Século Centenário" publicada por ocasião da comemoração dos Centenários em 1940, escreveu a propósito deste hotel:

«Leiria é, hoje um verdadeiro centro de turismo, onde diarimente afluem dezenas de pessoas. que vão passear para a margem do Liz e visitam o famoso e histórico castelo. Uma cidade, capital de distrito, com a categoria de Leiria, precisa, pois, de bons hoteis onde os turistas nacionais e estrangeiros se sintam bem, com todas as comodidades modernas, num ambiente verdadeiramente europeu. Leiria está, porem, bem servida de hoteis e pode convidar os estrangeiros a visitarem-na, sem receio de que vão dizer mal. Está nestes casos o Grande Hotel Liz, bem conhecido em todo o País como - e muito justamente - um dos melhores da província.
O Grande Hotel Lis, que fo! há pouco completamente remodelado, tem esplêndidos quartos bem arejados cheios de Sol, com água corrente fria e quente, casas de banho magnificas, etc. A sala de jantar, grande e alegre, confortável e acolhedora, é esplêndida. A cozinha portuguesa é das melhores, a disciplina e bôa educação do pessoal são notáveis. Em resumo: o Grande Hotel Liz que, sem receio de desmentido, deve citar-se como um dos melhores da província, é daqueles que os turistas e viajantes devem preferir, quando visitarem Leiria, pois não se arrependerão e pelo contrário, em segunda visita à cidade procurá-lo-ão.
A firma proprietária do Grande Hotel Lis, Cuz, Fernandes, Lda., tem caprichado em apresentar o seu hotel como um dor melhores estabelecimentos do género de Portugal. E com multo esforço e muito trabalho, tem-no conseguido, O Grande Hotel Lis é daqueles que merece ser aconselhado.»



Leiria no "Século Centenário" de 1940


1943


"Grande Hotel Liz" e Igreja do Espírito Santo (dentro do rectangulo vermelho)


Campanha de General Humberto Delgado em 25 de Maio de 1958


1960


1962


Nos anos 70 do século XX

A fazer fé em alguns artigos na imprensa local, o "Grande Hotel Liz", já em avançado estado de degradação,  terá encerrado definitivamente nos anos 90 do século XX. «Não se conseguem observar, à distância a que a imagem foi recolhida, os pormenores da degradação a que chegou aquele edifício, abandonado há muitos anos, vidros partidos, interior que se percebe a cair aos bocados, algumas portas e janelas fechadas com reforços para evitar a ocupação pelos sem abrigo.» in: "Viver em Leiria", Março de 2006.

No "Jornal de Leiria" em 2022 ...

«Duas décadas depois de fechar portas, o antigo Hotel Lis, em Leiria, vai ganhar nova vida. O projecto para instalar no local uma unidade de quatro estrelas, com 57 quartos e três suites, já deu entrada na Câmara e prevê também a reabilitação “integral” da casa Korrodi, existente no topo do terreno, e a sua transformação numa casa de chá, com quatro quartos duplos.
O “ponto de partida” do projecto é o que resta da fachada do antigo Grande Hotel Lis, cujas origens remontam ao século XIX, que será mantida “na continuidade da igreja” do Espírito Santo. De acordo com a memória descritiva, a que o Jornal de Leiria teve acesso, a unidade hoteleira desenvolve-se em socalcos ao longo da encosta, em quatro pisos acima da cota soleira, até à casa Korrodi, edifício onde em tempos funcionou a sede da Associação de Municípios da Alta Estremadura (AMAE).
Com um piso de estacionamento subterrâneo, o hotel estará equipado com duas piscinas, uma interior e outra exterior, spa (...) »


Projecto que chegou a ser aprovado mas ...

Por enquanto tudo «em águas de bacalhau» à espera de melhores dias ... sobrevivem «restos mortais» da fachada do antigo "Grande Hotel Liz" ...

 

Lemdo o placard ... e olhando para detrás do mesmo que o suporta ....

Para terminar, e apesar de não estar a responder a algum pedido, aproveito para publicar a seguinte mensagem dramática e preocupante de um leiriense, no "Diario Illustrado" de 21 de Julho de 1876 ...


18 de setembro de 2025

"Nova Cintra"

A "Quinta de Nova Cintra", ou simplesmente "Nova Cintra", foi adquirida por José Joaquim Leite de Guimarães (1808-1870), natural de Guimarães e a quem foi atribuído, por El-Rei D. Luiz I em 11 de Dezembro de 1866, o título de "Barão de Nova Cintra".

"Nova Cintra" chamava-se inicialmente "Quinta de Santa Rita", e estava localizada no lugar de Carriche, mais concretamente no final da Calçada de Carriche, local onde existiam outras propriedades de famílias abastadas, provavelmente amigas de José Joaquim, que faziam desta zona um local de veraneio. 

Apesar de decidir, por fim, viver no Porto, nunca se desfez da "Quinta de Nova Cintra". No seu testamento pode-se ler: «Deixo mais à Santa Casa da Misericórdia do Porto a minha quinta denominada de Nova Cintra, na proximidade de Lisboa, da qual tirei o meu título de barão, com a obrigação de dar o líquido rendimento de que já há muito goza minha prezada cunhada… com sobrevivência dela para seu filho… com mais a condição de em tempo algum lhe poder ser mudada a designação…»

José Joaquim Leite de Guimarães (1808-1870) - Barão de Nova Cintra

Inicio este artigo acerca de "Nova Cintra", quinta no final da Calçada de Carriche, na freguezia de São João Baptista do Lumiar, transcrevendo por ordem cronológica, algumas passagens que ilustram bem este lugar, antes de passar às casas de fado que ali existiram, a partir de 1948, sem esquecer o "Hotel Nova Cintra", que ali existiu pelo menos desde 1873.

«Calçada de Carriche, encontra-se uma formosa quinta, baptisada com o nome de Nova Cintra, e a melhor casa de pasto extra-muros de Lisboa. Ruas de bem copado arvoredo, solitarios carramancheís, uma serra com bello caminho praticavel por entre canaviaes, no alto d'ella um mirante para descançar no fim d'aquella ascenção, agua purissíma e sempre fresca rebentando em abundancia ao lado de optimos fructos e flores varíegadas-eis-ahí a Nova Cintra, que bem merece o seu atrevido nome.
A mesa é bem servida em pequenas salas de uma habitação unida á quinta, ou em algum dos kioskos, ou mesmo nas ruas de arvoredo se assim o quereis.» (1)

Romaria do Senhor da Serra em Belas

«Terminaremos fallando da Calçada de Carriche, ponto obrigado para ser visitado por todos os viajantes, que vêm a Lisboa, e que difficultosamente deixam de ir á Nova Cintra, Nada pôde justificar este titulo; mas a moda concedeu-lho, e por isso não ha remédio senão sujeitar- se a gente aos seus caprichos. A Nova Cintra é uma pequena quinta com agradáveis passeios e uma boa casa de pasto. Para nós só tem um merecimento, e é poder servir de exemplo na eschola da vida para provar o que é a constância no trabalho e na industria, porque de um ordinário e pouco rendoso casal conseguiu o actual proprietário fazer uma boa e valiosa propriedade, e recebeu em recompensa das suas fadigas e lavores, deixar a adversidade de o perseguir, e ser hoje naquella localidade querido e festejado por uns, adulado e invejado por outros.» (2)

Na próxima transcrição já é referenciado o "Hotel Nova Cintra" (hospedaria) que terá funcionado até ao final da primeira década do século XX.

«Carriche ou Calçada de Carriche - aldeia da Extremadura, freguezia de S. João Baptista do Lumiar, termo, districto, comarca e 8 kilometros ao NO de Lisboa 21 fogos, 90 almas.
Situada sobre a estrada real, que de Lisboa conduz a Loures, e próximo do Lumiar e também na estrada para Odivellas (que é a mesma do Lumiar.)
No fundo da Calçada de Carriche, está uma hospedaria que pomposamente se intitulou "Hotel de Nova Cintra".
É por isto que muita gente vae chamando a este sitio Nova Cintra.
Em Nova Cintra é a quarta estação do Caminho do ferro Larmanjat de Lisboa a Torres Vedras.
Tem esta povoação tido bastantes melhoramentos, e, como é muito çoncorrida das familias de Lisboa (prinçipalmente no.verão) é bastante provavel que venha a merecer o nome de Nova Cintra.» (3)

1887


15 de Maio de 1909

«( ...) e logo em seguida, mais dois campinos e alguns amadores, todos subirem a encosta das oliveiras, nas Marnotas, para rapidamente virem desembocar na calçada de Carriche, proximo da Nova Cintra, restaurante que ainda é lembrado pela gente d'esse tempo, recordando as bellas festas que alli se deram por motivo d'estas diversões.» (4)

«Nas frescatas 3 nas hortas dos arredores da Lisboa de 1833, guitarreavam-se modinhas.
Assim acontecia na Gertrudes da "Perna de Pau" no  Manuel Jorge, ás portas de Sacavem, no "Zé Gordo", na calçada de S. Sebastião da Pedreira, no Quintalinho. á Cruz do Taboado - onde se vendiam iscas de viteíla espetadas em palitos - e no Calazans, á Cruz dos Qualro Caminhos.
Nas suas succedaneas de 1846, já se guitarreava o fado, como succedia na Horta das Tripas, no Escoveiro (à Cova da Piedade), no Ezequiel do Dafundo, no Miséria da estrada de Palhavã, na Viteileira da travessa dos Carros, na Rabicha, no Campo Pequeno ), no Arco do Cego, na Madre de Deus e no Beato António. E esta tradição do fado mantevese nas hortas das epochás posteriores: José da Bateira, António das Noras, em Arroyos, Quintalinho da travessa do Pintor, Theotonio da calçada de Carriche ou "Nova Cintra" (onde se ia em burricadas), a Joanna do Collete Encarnado, no lado oriental do Campo Grande (que passou depois para a azinhaga da Torre, no Lumiar), "Cá e lá", José Gallinheiro, Joaquim dos Melões, na Outra-Banda, Arieiro, José dos Pacatos, retiro do Pardal, nas terras da Casa da Pólvora, Salgado do Arco do Cego, Videira do Campo-Grande, a tendinha do Campo, José dos Passarinhos, em Alcântara, as Varandas, ao Caminho de Ferro, José dos Caracoes, no Campo Grande, Luiz Gaspar, na estrada das Mouras, Esparteiro do Alto do Pina, Pacatos Velhos, o Rouxinol, nos Terramotos, Quinta do Ferro de engommar; e, mais recentemente, Pedro da Porcalhota, Cazimjro do Poço dos Mouros, Bazalisa, Quinta do Papagaio, Quinta das Águias, as leiteiras, José Azeiteiro, o Quebra-Bilhas, no Campo Grande, e José Roque, de Palhavã.» (5)

Carroagens para Calçada de Carriche (Nova Cintra)


1855


1872

«Na Calçada de Carriche, a quinta chamada Nova Cintra teve muita fama entre os frequentadores de retiros campestres; mas hoje já se não servem aqui jantares e apenas subsistem no logar algumas vendas frequentadas pelos saloios e cocheiros em transito.» (6)

«Algumas diversões se organizaram entre os Motas e Mendonças, passeios a Carriche, ao Senhor Roubado, a Odivellas e Carnide ; leituras em pleno jardim e serões musicaes, em que Eduardo acabava sempre por adormecer.» (7)

«Entre as latadas de pâmpanos, na horta imensa e acidentada, que é Nova Cintra, nas sombras do arvoredo, através da rede dos galhos e das pernadas, por cima do tilintar das louças e dos vtdros, das covas dos valados, com rescendencias a madresilva e rosas silvestres, chegavam até os cavaleiros, já pela calçada de Carriche acima, acordes indistinctos do fado, de cantares, de vozes avinhadas ou cristalinas, de centenas de ruidos desprendidos dessa colmeia, que, aos sábados, na espera de touros, se enchia a transbordar.» (8)

O restaurante e esplanada "Nova Sintra", propriedade de Álvaro Anselmo de Oliveira - de sua alcunha «Álvaro do cãp» - foi naugurado em 4 de Setembro de 1948 na Calçada de Carriche, nº 111, no sítio conhecido por "Nova Sintra". Durante os primeiros meses foi seu diretor artístico o fadista Alfredo Marceneiro apenas por dois meses. Seguiram-se-lhe, os fadistas Fernando Farinha (o «Miúdo da Bica») e Áurea Ribeiro.

4 de Setembro de 1948

Calçada de Carriche, 111 (onde está o reclamo à "Frigelo") onde funcionou o "Nova Sintra" (1948-1951). Ao lado ainda o reclamo ao restaurante "Pampilho" (1956-1958)

Aos domingos a ementa era especial: caldo verde à transmontana e à alentejana, mariscos de todas as qualidades, gradum de pescada e cabrito à Bairrada. Mas a especialidade da casa era o famoso “Leitão assado à Nova Sintra”.

Então, o grande animador deste castiço restaurante-esplanada passou a ser Fernando Farinha, que ficou conhecido como o “Miúdo da Bica”. Foi neste espaço que este fadista festejou o seu 20.º aniversário natalício, em 20 de Dezembro de 1948, num jantar que foi presidido pela fadista Hermínia Silva, com a colaboração de diversos artistas do teatro, do fado e da rádio e com a direção artística do poeta João Linhares Barbosa.


11 de Dezembo de 1948

30 de Dezembro de 1948

No dia 10 de Dezembro de 1948, foi organizada uma festa de homenagem à fadista Hermínia Silva com a inauguração da "Sala Hermínia Silva”. Participaram no programa desta festa, além desta popular atriz e cantadeira Hermínia Silva, outras grandes figuras do fado: Lucília do Carmo, que tinha a sua casa de fado “Adega da Lucília”, na rua da Barroca, no Bairro Alto, Maria do Carmo que era antiga proprietária da casa de fado “Ferro de Engomar”, Júlio Proença, Áurea Ribeiro e o poeta popular Linhares Barbosa.

10 de Dezembro de 1948

30 de Junho de 1949

No dia 26 de dezembro de 1949 realizou-se neste famoso restaurante uma ceia e um espectáculo de homenagem ao actor Vasco Santana, com a colaboração de artistas de teatro, fado e da rádio e um grupo de fadistas.

Por aqui passaram as mais admiradas figuras do fado como Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha, Hermínia Silva, Manuel Fernandes, Carlos Ramos, Carlos Duarte (o pirolito da Ericeira), Adelina Ramos, Maria Carmen, Ilda Silva, Maria da Saudade, Fernanda Baptista cantora e actriz de teatro e muitos outros.

Como já foi referido anteriormente, Alfredo Marceneiro manteve-se à frente da direcção artística do "Nova Sintra", mas por apenas dois meses, até à abertura do seu restaurante “O Solar do Marceneiro”, localizado um pouco mais adiante, e que abriria em 27 de Novembro de 1948. Localizava-se no princípio da estrada que seguia para Odivelas, junto ao monumento do Senhor Roubado. A 9 de Dezembro de 1950 mudadria de nome para "Solar a Tradição".


27 de Novembro de 1948


31 de Dezembro de 1948


8 de Dezembro de 1950

Depois de trespassar o seu "Solar do Marceneiro", regressa à direção artística do restaurante "Nova Sintra" e que ele tinha inaugurado. Por essa altura por lá cantavam Alfredo Marceneiro, o seu filho Alfredo Duarte Júnior, Maria de Lourdes e Luís dos Santos, acompanhados à guitarra por José Marques e à viola por Armando Silva. No final de Agosto de 1951, Alfredo Marceneiro regressou ao seu retiro, que passou a chamar-se de novo “Solar do Marceneiro”.

8 de Dezembro de 1950

29 de Dezembro de 1950

Entretanto restaurante "Nova Sintra" teria vida curta e encerraria no final de 1951. No seu lugar abriria, em 18 de Junho de 1955 o "Solar da Tibúrcia".  Aqui cantavam a fadista Áurea Ribeiro e o fadista Alfredo Duarte Júnior, filho de Alfredo Marceneiro. 

18 de Junho de 1955

Também teria uma existência curta e em 12 de Junho de 1956 seria substituído pelo "Pampilho". Este restaurante pertencia a Alfredo de Almeida, marido da fadista Lucília do Carmo (mãe do fadista Carlos do Carmo) donos da casa de fados "O Faia". 

«Abre hoje, na Calçada de Carriche, 111-C, o restaurante-típico «Pampilho», com bom serviço de cozinha regional, fados e guitarradas, que estará aberto toda a noite. Esta tarde, o seu proprietário, Alfredo de Almeida, dono do restaurante-tipico «O Faia», da Rua da Barroca, ofereceu um vinho de honra aos representantes da Imprensa e a numerosos clientes e amigos.» in: jornal "Diario de Lisbôa"

12 de Junho de 1956


Restaurante "Pampilho" 

Encerrou em Agosto de 1957 e voltou a abrir em 2 de Maio de 1958, sob a gerência do restaurante "Tricana", que tinha estad instalado na primeira "Feira Popular de Lisboa" na Palhavã até 1957 e que estaria na nova, a partir de 1961.. Acabou por encerrar definitivamente no final de 1958.

Outras casa de fado existiram na estrada para Loures como: 

"Retiro da Ti Jaquina" à saída do Casal de Olival Basto (Km 1 da estrada para Loures) - funcionou entre início do século XX e anos quarenta do mesmo século).

"Patrício" - Restaurante típico, com fados e guitarradas e que substituiu o "Retiro da Ti Jaquina" - funcionou entre 1949 e 1957.

"Retiro" - Restaurante, fados e boite que veio substitui o "Patrício" - funcionou entre 1958 e 1960.

"Roseiral" - Restaurante à saída de Olival Basto - funcionou entre 1958 e 1965 (?).

"Casa dos Caracóis" - Taberna e casa de fados que funcionou ao lado da "Nova Sintra" entre 1960 e 1967. Fechou destruído por violentas cheias e reabriria na Póvoa de Santo Adrião.


Bibliografia:

(1) -  "Novo Guia do Viajante em Lisboa e seus arredores", de 1853.
(2) - "Roteiro do viajante no continente: e nos caminhos de ferro de Portugal em 1865", de  João António Peres Abreu.
(3) - "Portugal antigo e moderno; diccionario ... de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias" de Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal, em 1873.
(4) -   Revista "Serões" de 1901.
(5) -  "Historia do Fado" de Pinto de Carvalho, de 1903. 
(6) -  "A Extremadura Portugueza" de Alberto Pimentel, de 1908.
(7) -  "Ercília ou os amores de um Poeta", de 1908
(8) - "A Sociedade do Delírio" de Eduardo de Noronha, de 1921.

Blog"Fora de Portas",  de Filomena Viegas.

10 de setembro de 2025

"Casa Chineza"

A "Casa Chineza" terá tido a sua origem no 1º andar da Rua dos Retrozeiros, 125, em Lisboa, onde Joaquim Pereira da Conceição terá iniciado o negócio de objectos chinezes como louças, chailes, leques, chás, sedas etc. de origem chinesa. 


24 de Novembro de 1866

Cinco anos depois, em 1871 mudar-se-ia para a Rua do Ouro, 172 - terceiro quarteirão à esquerda, na direcção da Praça do Comércio, mesmo defronte do prédio onde viria a instalar-se a "Papelaria Vieira(a partir de 7 de Março de 1915), futura "Papelaria da Moda"


4 de Setembro de 1971


8 de Agosto de 1874


2 de Novembro de 1874

Poucos anos depois, em 1880 já se tinha mudado para os números 234 e 236 da mesma Rua do Ouro, para um prédio propriedade do "Banco do Minho", que tinha sido fundado em 14 de Abril de 1864 em Braga. Ficava defronte do edifício do "Monte-Pio Geral". Entretanto o nº 172 viria ser ocupado por uma loja de modas e fazendas da firma "Aranha, Martins & C.ª".

"Casa Chineza" no excerto do "Almanach Commercial de Lisboa" para 1880

"Casa Chineza" mantinha uma outra loja , o "Armazém Chinez" que em 1885 já se tinha mudado do Largo do Calhariz, 31 e 32, para a Rua do Loreto, 47.


Ambos de 23 de Agosto de 1885



1885


30 de Setembro de 1885


15 de Março de 1894

Em 30 de Janeiro de 1896, e por escritura pública, Joaquim Pereira da Conceição faz sociedade com Sebastião May Figueira e formam a firma "J. Pereira da Conceição e Commandita". Em 10 de Dezembro de 1898 dava entrada na "Repartição de Propriedade Industrial", da "Direcção Geral de Commercio e Industria" o pedido do registo da marca "Casa Chineza".




1899

24 de Maio de 1902

No "Almanach da Casa Chineza" para 1903, na publicidade podia-se ler:

«Chá Olong, Chá Peloiro, Chá Pouchong, Chá Ponta Branca, Chá Pouchong e Chá Perola.
Especialidade de café torrado e moido. Café de Cabo Verde, Moka, S. Thomé. Angola, etc. 
Objectos da China, India e dapão, Lenços de sêda da India. Leques, Cofres, Bules, Jarras, Vinhos, Licôres, Vidros, Apparelhos de porcellana e muitos outros objectos de finissimo gosto.

Esta casa, uma das mais antigas no seu genero, bem conhecida em Lisboa e em todo o Paiz pela excellente qualidade dos generos oue expoe a venda por preços excessivamente modicos, distribue annualmente a todos os Exm.os freguezes um bonito e util Almanach assim como Brindes permanentes pelo numero de senhas que respectivamente se designam:

25 Senhas,        uma chavena e pirees de faianca on um bom sabonete "Electra".
50 Senhas,        uma chavena e pires de porcellana, ou um copo, on um prato de porcellana.
100 Senhas,      uma chavena e pires de porcellana de limoges ou um copo de crystal ou um Frasco de essencia.
500 Senhas,    um bonito prato da China ou uma linda caixa de "Charao" ou uma linda chavena de porcellana da China "Mandarim".
1:000 Senhas,   um serviço para chá.
5 000 Senhas,   um serviço para chá, porcellana de "Limoges".
10:000 Senhas, um servico completo de jantar.
20:000 Senhas. um magnifico serviço completo para jantar, porcellana de "Limoges".

Cada importancia de 200 réis tem direito a uma senha.

O lote mais especial das melhores marcas de café, Kilo 720 réis.
Especial café de Família, Kilo 400 réis.»


Setembro de 1905


1913


1915

A "Casa Chineza" entre 1915 e 1916 mudaria, de novo de instalações dos nos 234-236 para os nos 274-278 (1º quarteirão da Rua do Ouro e do mesmo lado), onde ficaria até ao seu encerramento definitivo em 2023. Neste nº tinha funcionado anteriormente uma casa de chás e cafés pertença de Isidoro Soares Ferreira.

Tal mudança deveu-se ao facto do prédio onde estava instalada ter sido desocupado na sua totalidade e sido vendido á casa comercial "Barros & Santos". «Fruto da sua expansão, o proprietário da "Barros & Santos", pede ao jovem arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969) que elabore um projecto para modificação exterior e interior dum edifício na Rua do Ouro 234-242, ex-propriedade do "Banco do Minho" e que se encontrava desabitado. O projecto, consistia na transformação dum edifício de 6 andares sendo os dois primeiros destinados ao comércio e os restantes a serviços administrativos, propunha alterações substanciais, quer no seu interior quer exteriormente, introduzindo uma nova fachada com motivos "art-déco". As obras tiveram início em 1921 (...) » neste blog no artigo: "Barros & Santos". 


"Casa Chineza" na Rua do Ouro, 274-278. À direita, na foto, com um alpendre de telhas a "Leitaria Portugalia" fundada em Março de 1918

Num artigo do jornal "A Capital" de 29 de Junho de 1916, acerca de estabelecimentos na Rua do Ouro:

«Ainda la em cima, no primeiro quarteirao do Iado direito, fica a Casa Chineza. Essa parte da rua do Oiro foi sempre a regiao classica das lojas de cha. Algumas d'ellas, que tiveram longa e proficua existencia, ainda hoje existem. Mas a mais importante de todas é a Casa Chineza, cujo fornecimento de chas, cafes e outros generos de mercearia e dos melhores e dos maiores. Além d'isso, as collecções de artigos e de preciosidades orientaes, como loiças da India, China e Japao, leques, charoes, lenços, artigos de seda, etc., são riquissimos, como facilmente verifica quem defronte da montra d'este magnifico estabelecimento se detiver, ainda que por poucos momentos.
A Casa Chineza é, portanto, a continuadorara da tradicção d'aquella porção de rua onde se encontra installada ha muitos annos.»  in: "A Capital" de 29 de Junho de 1916.


Em 1928 a "Casa Chineza" participou no "I Salão de Outono da Elegância Feminina & Artes Decorativas «Voga» ", que abriu as suas portas a 3 de Novembro de 1928, no Palácio da "Sociedade Nacional de  Belas Artes", na Rua Barata Salgueiro em Lisboa, e promovido pela famosa revista feminina "Voga", editada pela Casa Aillaud & Bertrand”.



Publicação na revista "Ilustração" 


Stand da "Casa Chineza"

«Não precisava a Casa Chinesa de reclamar os seus produtos. Mas, apesar disso não quiseram os donos da afamada casa listoeta deixar de concorrer no Salão de Outono apresentando um stand verdadeiramente sensacional e formosíssimo onde se admiravam artísticas loiças e curiosidades chinesas requintadamente artisticas. E para completar a Casa Chinesa criou o Chá "Voga" que obteve um extraordinaáio êxito de venda.» in: revista "Ilustração".


Stand da "Casa Chineza"

Em 1943 a empresa "A Caféeira, Lda." adquire a "Casa Chineza". 

«A origem da Caféeira remonta ao século XIX, tendo como ponto de referência a Casa Chineza, casa de cafés e chás na Baixa Pombalina. A Caféeira começou por torrar café nas caves da Casa Chineza, mais tarde no Largo da Fontainhas e, a partir de 1964, em Sta. Iria de Azoia». in: NewCoffee Company

Em 1974 esta empresa já era proprietária da "Casa Chineza", do "Café Ribatejano" inaugurado na Rua dos Anjos em 1 de Dezembro de 1948, e do "Café Monte Carlo" inaugurado em 1955 na Avenida Fontes Pereira de Melo, todos em Lisboa. Todos já desaparecidos.

1943

23 de Dezembro de 1974

Com o passar dos anos o negócio da "Casa Chineza" foi-se alterando e mais recentemente, o negócio virou-se definitivamente para a pastelaria e restauração. Na montra, entre os tradicionais doces portugueses, podia-se ver o anúncio da grande especialidade da casa, difícil de encontrar longe de Trás-os-Montes: o "Folar de Chaves". Tradicional na época da  Páscoa, é um pão feito com (muitos ovos), salgado, e recheado com muitos e bons enchidos.




Como, infelizmente, vai acontecendo já com muita regularidade a "Casa Chineza" encerrou definitivamente em Dezembro de 2023, ao fim de 157 anos (!) de existência ... Já em Abril do mesmo ano de 2023 tinha encerrado outra loja ainda mais antiga, a mui conhecida "Casa Senna" fundada na Rua Nova do Almada em 1834, com 189 anos (!!) ... 

Hoje tive a notícia do encerramento de mais uma, ... a "Tabacaria Rossio", que terá aberto as suas portas em 1892, como "Tabacaria Costa" na Rua Aurea (Rua do Ouro) 295, esquina com a Praça D. Pedro IV (Rossio), em Lisboa. 

"Restos mortais" da "Casa Chineza" em Setembro de 2024 (via Google Maps)

fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa,Arquivo Municipal de Lisboa Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Estação Cronographica